Tuesday, September 4, 2007

Capitulo 14

Amarildo residia num quarto simples localizado na aerea sul da UAC, era um quarto muito aconchegante, com todas as paredes pintadas de branco, com exceção da parede onde ficava a porta que era pintada de um tom de azul quase celestial.
Amarildo não tinha muitos pertences, tinha um poster do Fausto Fawcett e as loiraças belzebu, mas sem o Fausto Fawcett, que o guri de bobo só tinha a cara, tinha um poster do Claudio Adão e um mini-craque do Gonçalves, que ficava ao lado dos seus livros, em cima de uma pequena escrivaninha, onde Amarildo começara seus estudos pra descobrir a cura para o buxismo.
O jovem rapagote passava a maior parte do seu tempo enterrado em livros, jornais locais e anotações, tudo em busca de uma grande ideia, mas toda vez que pensava demais sentia um estranho formigamento na panturilha esquerda, que na verdade não incomodava muito, apesar dele sempre achar aquilo meio estranho.
Naqueles dias Amarildo se sentia um pouco sozinho, pensando o que tivera acontecido com seu grande parceiro Josevaldo, já que eles não se viam desde que o rapaz mudara pra Cochabamba para concluir seus estudos, foi quando repentinamente Amarildo sentiu um cheiro estranho de marshmallow queimado e resolveu sair do quarto pra ver o que estava acontecendo, foi quando surpreendentemente viu um sinal fumaça, que lhe dizia uma mensagem que só ele e Josevaldo sabiam decodificar.
Josevaldo dizia que estava vindo visita-lo.

Se existe gente a minha volta, eu não vejo, pois o desejo é como um véu que me cobre

Monday, June 11, 2007

Poema

Poema de Clarice Lispector


Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio como plenitude.
Faça com que eu seja a tua amante humilde, entrelaçada a ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de te amar, sem odiar as tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braçoso meu pecado de pensar.

Sunday, June 3, 2007

Capitulo 13

Amarildo entra na sala para a sua primeira aula, o professor era uma sujeito estranhamente garboso, assim meio que lembrava o Bela Lugosi, meio que lembrava alguem que Amarildo nao lembrava ao certo quem era.
Este mesmo professor tentara se suicidar certa vez, mas seu revolver è daqueles que disparam uma banderinha com a palavra "bum!". A bandeirinha acerta seu olho mas ele sobrevive, passando a enxergar tudo em duas dimensões. Ele era um cara tao desconfiado, que nunca dava as costas pra ninguem, o que fazia com que ele andasse girando pela rua, rodopiando constantemente, todo este molejo fez com que ele se torna-se professor de lambada.
Quando toca o primeiro acorde da musica, Amarildo que jamais dancara na vida, eh tomado pelo swing da cancao, e se torna automaticamente numa especie de Beto Barbosa, mas muito mais bonito e bem vestido, surpreendendo a todos inclusive o mestre, que naquele momento percebe algo de diferente daquele guri, alem dele usar uma meia de cada cor, ele so havia visto algo parecido quando estivera preso nos campos de trabalho forcado na prisao de Greb, em Zagreb.
Sem saber o que fazer com o prodigio, o docente passa a mao no seu bigode estilo Belchior, so que ruivo, e manda o menino de volta para o seu quarto, Amarildo vai embora triste como uma codorna, mas o que poderia ele fazer, ao chegar em seu quarto deita na cama e comeca a pensar, que ele precisa inventar algo muito importante para ser aceito pelos professores, o que o mundo nao sabia, era quao importante seria esta invencao.

"O amor è o fogo que arde sem se ver, è ferida que doi e nao se sente"

Sunday, May 27, 2007

Capitulo 12

Amarildo saiu cedo para o seu primeiro dia de aula, teria aula de lambada, que alem de uma danca proibida, era tambem uma ciencia oculta.
No caminho para a classe, se deparou com um sujeito muito estranho, que lhe faria uma revelacao bombastica, se estivesse sobrio, Jako Marzukwiesk, um polones desempregado desde 1917, que mantinha suas funcoes vitais gracas as leguminosas que plantava na sua horta hidroponica, Jako vivia sozinho, quase incognito, so tendo uma fuinha que lhe fazia companhia, alem de cozinhar e anotar os recados.
O pequeno animal nao gostou de Amarildo e rosnou pra ele que respondeu com um latido, apos uma troca de olhares, Amarildo repudia o diminuto animal, e decide fazer o objetivo da sua vida, a extincao de todos os animais do filo dos Chordata.
Mas a fuinha transmitia afeto e carinho para Jako, e a alegria do polaco consistia em conversar com ela, entao ele decide tomar as dores da sua companheira e desafia Amarildo para um combate, onde so um sairia vivo ao termino da balburdia.
Jako atira em Amarildo com um estilingue, mas o intrepido rapaz desvia do tiro e comemora como se fosse um gol, indignado Jako se recolhe em posicao fetal, enquanto um condor leva a sua fuinha, sumindo no horizonte, em camera lenta, sem mais nada a fazer ele pede para Amarildo sacrifica-lo, mas o bom moco lhe afaga a cutis e prefere troca-lo por rum e melaco com a Companhia das Indias Ocidentais, assim livre da ameaca hidroponica, Amarildo pode seguir tranquilo seu caminho.

"It`s just a bunch of feelings that we have to hold but I am here to help you with the load"

Saturday, May 19, 2007

Zoological garden

A gente finge normalidade.
Mas gostamos de chocolate da Pan e do Engenheiros.
Ela, com certeza, finge ser normal melhor que eu.
Ela me achava esquisito e eu achava ela chata.
Somos diferentes em muita coisa e muito iguais em outras.
Ja rimos juntos e um do outro.
Ja choramos juntos e um por causa do outro.
Tem dia que da vontade de se apertar todo, outros de apertar so o pescoco um do outro.
Ela me olha de um jeito tao doce, e eu, nao consigo parar de olhar pra ela.
Ela gosta do jeito que eu escrevo, e eu, so escrevo porque ela gosta.
Ela dorme tao quieta, e eu, acordo no meio da noite, so pra olhar ela dormir.
E a gente continua fingindo normalidade...
Acredito que seja isto que a sociedade moderna convencionou chamar de amor.

"E mesmo com tudo diferente, veio mesmo, de repente uma vontade de se ver, e os dois se encontravam todo dia, e a vontade crescia como tinha que ser."

Tuesday, May 15, 2007

Capitulo 11

Mesmo tendo boa parte dos seus estudos custeados por uma organizacao eslovaca que enriquecia uranio com fins medicinais, Amarildo decidira que ja era hora de conseguir um emprego, mesmo que o que ganhasse fosse somente para comprar gibis e balas de goma.
Decidiu comprar a Gazeta de Cochabamba no domingo e procurar por algo que se adequasse aos seus anseios, ficou muito interessado em uma vaga numa fabrica de geleia de abrico, mas este cargo exigia experiencia de 12 anos, somente em fabricas de geleia de abrico, logo desistiu.
Resolveu entao na segunda de manha, ir ate a area nobre, o centro cultural e de entretenimento de Cochabamba, uma regiao conhecida por Marvelous`Garden, ele que ja havia sido guarda costas da familia governante do Qatar, alem de limpador de galinheiro e trapezista, com certeza conseguiria algo na noite boliviana.
Tentou numa boate de nome Catitos, mas o dono nao achou que ele fosse capaz de fazer cover da Alcione e preferiu nao contrata-lo, alegando que o rapaz nao tinha perfil para a funcao, Amarildo ja andava desanimado quando um letreiro piscou a sua frente, era o mundialmente conhecido Bar do Sr Mario, o rapaz pensou porque nao tentar, mesmo sabendo que isso era deveras ousado, entrou e se candidatou a vaga de quebrador de garrafas, para a sua surpresa fora contratado na hora, com inicio imediato, mesmo sabendo que o trabalho era pesado, ficou muito feliz, mas na verdade o que o deixava feliz era uma estranha ideia que a tempos ja estava na sua cabeca, uma invencao que provavelmente mudaria a historia do mundo.

"Voce se torna, eternamente, responsavel por aquilo que cativas"

Tuesday, April 17, 2007

Capitulo 10

Amarildo acordou estranho naquele dia, acordou se sentindo assim como um porco iberico, mas nao como qualquer porco iberico, mas um criado em liberdade pelas padrarias da Galicia.
Resolveu sair para comprar algumas hortalicas e leguminosas para a confeccao do seu jantar, foi a uma feira livre numa praca que lembrava a Praca do Carmo, mas com barracas de frutas.
Amarildo caminha ate a feira, enquanto isso vai pensando, na verdade ele adora pensar, ele è um pensador, embora preferisse ser tecnico em informatica, foi pensando porque as pessoas gostam tanto de falar, imaginou que se ficassem mais que cinco minutos sem falar, talvez seus labios grudassem, mas achou que isso nao faria sentido, pois o proprio ja ficara horas em silencio, entao pensou que se as pessoas ficassem mais de cinco minutos sem falar, talvez elas comecassem a pensar, sorriu com o canto da boca, mas descartou a teoria por acha-la muito cinica.
Amarildo passeia lentamente quando um grupo de anoes suecos o confudem com um pernil assado e o colocam dentro de um caixa de isopor e comecam a correr em grande velocidade, derrubando todos que encontram em seu caminho. Aproveitando um segundo de distracao dos anoes, Amarildo salta da caixa e cai dentro de um cesto de vime de uma mulher de Sao Tome e Principe que vendia figos, no meio das frutas, Amarildo tem um insight, levanta-se e proclama a multidao: "A verdade è a fortaleza dos inocentes!".
Neste instante todas as pessoas param instantaneamente, inclusive o transito e todos os sons da cidade, lentamente comecam a aplaudir, unissonos, ao mesmo tempo que o cidade toda perplexa tenta entender Amarildo, ele recebe um convite para ser adestrador de zebras no Grand Circus de Kiev, mas prefere continuar seus estudos, embora a proposta tenha sido deveras tentadora.

"E eu vos direi: Amai para entende-las, pois sò quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e entender estrelas"